No século XVIII, as minas brasileiras, especialmente as de Minas Gerais, tornaram-se um dos principais motores da economia colonial.
O ouro extraído pelos colonos portugueses, com a intensa utilização de mão de obra escrava, não apenas alimentava o comércio local no Brasil, mas impulsionava grandes transações comerciais em Portugal e em outras partes da Europa.
Leonardo Marques, pesquisador do tema, destaca que o ouro, além de ser usado para adornar as suntuosas igrejas mineiras, também circulava em pó, servindo como moeda de troca em transações cotidianas na colônia.
Mas, para além dessas trocas locais, a maior parte do metal precioso tinha destinos internacionais.
Cobrança do “quinto” e financiamento de Portugal
O governo português impôs uma taxa de 20% sobre o ouro extraído, conhecida como o “quinto”. Esse tributo era destinado tanto a cobrir despesas administrativas no Brasil quanto a financiar grandes obras em Portugal.
Entre as mais emblemáticas, destaca-se o Palácio Nacional de Mafra, cuja construção foi amplamente bancada com o ouro brasileiro, como observado pelo geógrafo Wilhelm Ludwig von Eschwege em seu diário “Pluto Brasiliensis”.
O destino do ouro: comércio com a Europa e África
Segundo o estudo “O Ouro Brasileiro e o Comércio Anglo-Português”, mais de 80% do ouro extraído no Brasil fluía para a Europa, muitas vezes por meio de comércio ilícito.
A economia portuguesa, fortemente dependente desse ouro, utilizava o metal precioso para adquirir produtos de outras regiões, especialmente da Inglaterra, com quem mantinha acordos comerciais vantajosos, como o Tratado de Methuen de 1703.
Esse tratado favorecia os ingleses, levando a um enorme fluxo de ouro brasileiro para a Inglaterra. Em 1738, cerca de 8 mil quilos de ouro foram usados para equilibrar a balança comercial entre Portugal e Grã-Bretanha.
“A Grã-Bretanha está no coração de uma transformação financeira radical no mundo, e o motor é a mineração no Brasil”, comenta Leonardo Marques.
Outro destino relevante do ouro brasileiro foi a África, onde Portugal utilizava o metal para adquirir escravos. Estima-se que aproximadamente 47 mil quilos de ouro foram utilizados para esse fim na primeira metade do século XVIII.
Embora parte do ouro tenha permanecido na África, grande parte retornou para a Europa, demonstrando a complexa teia de comércio internacional da época.
Consequências da exploração aurífera
Embora o ouro tenha trazido riqueza momentânea para Portugal, suas consequências a longo prazo não foram tão positivas. Pesquisadores apontam que a abundância de ouro criou uma espécie de “maldição”, prejudicando a industrialização e modernização do país.
O diplomata D. Luís da Cunha previu no século XVIII que essa dependência do ouro deixaria Portugal submisso à Inglaterra, o que de fato se confirmou com o tempo.
Assim, enquanto o ouro brasileiro foi um dos motores da economia global no século XVIII, ele também trouxe desafios e consequências significativas para Portugal, que não conseguiu transformar essa riqueza em um desenvolvimento econômico sustentável.